segunda-feira, 31 de outubro de 2011

OS SINOS DE VALDUJO

                                                  Os dois sinos antes do recente restauro

                                                        Os dois sinos após o restauro
A propósito dos sinos da igreja de Valdujo, cabe-me transcrever o que sobre eles escrevi e publiquei no livro “VALDUJO-Três Povoados, Um Povo”:
Estava a rematar a pesquisa de campo para esta obra, quando foram recolocados os dois sinos na torre, após um trabalho de restauro e “embelezamento”. E, ao vê-los de novo no seu sítio, lembrou-me aquele poema de Fernando Pessoa:
Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

Um deles, o mais pequeno, tem gravada a data de 1958 e, o maior, a de 1890. Ambos foram fabricados na fundição de Trancoso, fundada em 1851 (com a encomenda do sino da igreja de S. Pedro) por António Rodrigues, e continuada por Manuel Rodrigues Fernandes, sobrinho do fundador, pois foi este último a fundir o sino da matriz de Valdujo. O sino mais pequeno, de 1958, foi forjado por João Rodrigues Fernandes, filho do Manuel Rodrigues, pois a fundição extinguiu-se em 1964.
O sino de 1890 ostenta os nomes de Jesus -  Maria – José, a Sagrada Família.
Querendo obter mais dados sobre o sino mais pequeno, consultei o filho do último fundidor, Sr. Germano Santiago Fernandes, que gentilmente me facultou o livro de registo. O sino foi encomendado em 31 de Maio de 1958, pelo então pároco José Mesquita de Almeida. O sino pesa 94,5 kg, constando no registo que se abateu o velho sino (provavelmente do mesmo ano do maior - 1890) que pesava 104 kg. Também consta que na mesma altura se consertou o badalo.
A propósito dos sinos e dos seus toques, era costume traduzir-se a simbologia dos sons através das onomatopeias fonéticas, consoante fossem sinos grandes, pequenos ou sinetas. Neste caso, os de Valdujo tinham a sonoridade mais forte, como não podia deixar de ser, ridicularizando os de outros lugares, como Esporões e A dos Ferreiros. Isto significa que os valdujenses tinham orgulho nos sinos da sua igreja.
Com voz efeminada, iniciava o de Esporões: “ Tem lêndeas! Tem lêndeas! Tem lêndeas!”.
Respondia-lhe o sino mais fino de Valdujo, com voz de cana rachada: “Tira-lhas! Tira-lhas! Tira-lhas!”.
Soltava o de A dos Ferreiros, voz abafada e rouca: “C’um quê? C’um quê? C’um quê?”.
Rematava o mais grosso de Valdujo no seu vozeirão: “C’um badalão grande! C’um badalão grande! C’um badalão grande!” 

Para finalizar, não esqueço o da capela da Senhora do Desterro, solitário na sua única ventana, que me dizem precisar de restauro.